sábado, 30 de janeiro de 2010

Noite


O que é a noite além de bela, fria e solitária?
O que possui o céu para além das estrelas?
Fixo olhar no infinito
Paradoxalmente apaixonante e tenebroso.

Beatriz, 26 de fevereiro de 2008

*Último poema publicado em "Estendendo a Mão"

Ingratidão


Estava ali, como entardecer de um dia, como noite em lua cheia
Estava ali, tesouro longínquo, não obstante presente
Para se admirar, somente, sem palavras
Para se sentir, inexpressível
E eu, esqueci-me de agradecer, porque não vi.


Beatriz Souza, 18 de fevereiro de 2008

Nosso mundo


Meu mundo só, seu mundo só
Quando acabar, que fique tudo bem
Com um abraço apertado, quente
Com palavras silenciosas de perfeito "Amo-te"
Com olhar seguro e tranqüilo de "Quero-te"
Quando chegar, que seja lugar seguro
Com palavras mudas que se dizem apenas com o olhar
Como notas musicais suaves e alegres como o voar de uma borboleta

Beatriz, 1.º de fevereiro de 2008

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nada mais


Acordei sozinha em lugar desconhecido.
Meu coração estava confuso entre um misto de solidão e liberdade.
Despida caminhei em direção à água.
Não havia nada além de céu, areia e mar.
Lembrei-me do tempo de criança... dos abandonos, das frustrações...
em que eu ficava denconsolada naquela imensidão.
Havia alguma coisa que dizia que tudo seria muito diferente.
Passou-se muito tempo e, tempo rápido para pouca vida.
Novamente olho para essa vastidão de água e sal.
Confusa, sem saber o que foi que aconteceu e o que irá acontecer...
Sem saber o que pensar, o que desejo e como parei nesse labirinto sem fim
De tempo em tempo, levanta-se um vento forte
Olhos de areia, garganta de sal...
Debaixo de sol quente dia inteiro, pele arde
Tanta água que não mata sede alguma
Vai chegando noite novamente, eu e nada mais

Beatriz Souza, 25 de novembro de 2007

Água límpida


Desejo dessa água límpida, dessa luz de cristais
Desse céu infinito, desse som e de paz
Desejo essa rara beleza, seja sonho ou fantasia,
Desejo-me flutuando e no rosto a brisa fria
Respiro fundo... fecho os olhos... e adormeço
Já sinto o vento de leve tocando os pés
Mas como sonho é: já não flutuo entre as nuvens.
Sem que eu perceba, vejo-me boiando
Desejo dessa água límpida, banhando-me com sabedoria
Desse céu infinito, inspirando-me de alegria.

Beatriz, 28 de outubro de 2007

Brilho solitário


Dizendo adeus ao passado
fazendo as pazes com o espelho, com a balança,
com o sol lá fora, com a vida lá fora...
silenciando ao rumor de mau-humor
inspirando ar de leveza e sabedoria

Do outro lado do mundo, palavras suplicantes
de um pouco de atenção às entrelinhas...
Em declaração explícita, de alma rasgada, aberta às chagas do amor
O que me é claro, como claro é o dia,
mas que não me impede de não ter uma resposta, uma reação

Entre um e outro, um terceiro,
um quarto, um quinto
somos muito(s) solitários nesses eternos infinitos
cada qual com suas luzes compondo brilhos diversos

Beatriz, 07 de outubro de 2007

Solitários


Ando
incansavelmente por esse deserto
dias de calor, noites de frio
seco e sede
úmidos, apenas meus olhos quando aperta a solidão
olho para o céu, miro estrelas, busco outro mundo, outros planetas
quero enxergar, quero ouvir, quero sentir
(talvez haja algum outro solitário além de mim)
e grito rumo ao infinito:
- tem alguém aí?

Beatriz, 24 de setembro de 2007

Brilho da estrela


Enquanto houver o brilho de uma estrela,
ainda que pequeno
ainda que longínquo e sereno
ainda que piscar lento
Haverá olhares admirados, pensamentos atentos,
corações sensíveis, sentimentos bons
...
Enquanto houver uma estrela no céu ou no mar,
ainda que solitária
ainda que esteja distante ou profundo
haverá quem possa observar e se encantar
...
Pode ser que as estrelas não realizem nossos desejos,
mas ao menos passamos a acreditar.

Beatriz, 19 de setembro de 2007

Sentimentos confusos


Entre Céu e Terra, terra e mar
Entre preto e branco, fogo e ar
Entre riso e lágrima, estrela e luar
Entre sol e chuva, flor e pomar
Entre água e vinho, gosto e sabor
Entre claro e escuro, luz e pavor
Entre bem e mal, ódio e amor
Entre aparentes opostos, vivo vacilando entre um e outro
Sem saber a qual pertenço, misturando em muito e pouco
Foi. Tudo voltou à realidade. Só os pensamentos é que ficaram confusos
Os sentimentos, de ponta-cabeça (e de pernas pro ar).

Beatriz, 21 de agosto de 2007

Invasão de privacidade


Estas palavras compõem-se em poesia
Nestas palavras, impressões incompletas
de um pensamento em outros gêneros literários

Silencie sua dúvidas, abrande sua ira
Dispense a gentileza, guarde seus conselhos

Ei! Ei! Corte as intimidades!
Corte as intimidades, porque não te conheço
E dispenso a companhia

Nestas palavras, não sou eu
Estas palavras não são para você.

Beatriz, 12 de agosto de 2007

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Outra despedida


Não queria falar por metáforas,
mas em cada partida, leva um pedaço de mim.
Sinto meu coração apertado, de uma ausência,
um vazio que não sei explicar.
De tão doloroso e triste,
lágrimas surgem e escorrem pelo meu rosto.
Sinto-me impotente por não poder impedir que você vá embora.
Será preciso alguns dias para me acostumar novamente...
Mas como me acostumar com a alegria repentina e breve
que logo se esvai com sua partida?
Como me acostumar com a despedida,
quando o retorno é incerto?
Como me acostumar que tudo, nada tenho
no segundo presente, no segundo seguinte?

Beatriz Souza, 1º de agosto de 2007

De coração aberto


Deve haver um motivo...
Quando quiser falar, a porta está aberta
Talvez haja um erro...
Quando quiser perdoar, os braços estão abertos
Por favor,
não converta em mal, o que se fez por bem
compreenda cada motivo, as chagas estão abertas
Quem sabe resta esperança
Quando quiser voltar, o coração permanece aberto

Beatriz, 30 de julho de 2007

Solitário barco


Outro barco segue ao longe...
O sol vai se pondo e eu dizendo, é cedo
A noite é fria, vou ficar sozinha, não vá
Folha de palmeira balança, vai escurecendo
Para onde segue
Se desaparece no horizonte sem voltar para mim?

Beatriz, 21 de julho de 2007

Barco solitário


Sua vida segue como um barco solitário
durante o entardecer
O vermelho-sangue pintado no céu, ressentimento?
O amarelo-ouro refletido na água, orgulho ferido?
Luta vã contra o vento e a vida
E quando não há mais velejo
Afunda-te, banhando em lago brando e esquecido.
Beatriz, 08 de julho de 2007

Serenidade II


De repente, a serenidade
De repente, um clarão de luz
De repente, o calor do sol
De repente, o azul do céu
De repente, a brisa suave
De repente, o ar pelos pulmões
De repente, meu corpo ao chão
A serenidade, os pensamentos tranquilos, uma visão agradável, um som ambiente...
Uma borboleta, uma flor, uma libélula, um amor, uma rosa, uma cor
De repente, a harmonia
De repente, a sombra das folhas
De repente, o friozinho de fim de tarde
De repente, o colorido do pôr-do-sol
De repente, minha respiração
De repente, meu corpo bailando girando em canção

Beatriz, 1º de julho de 2007

Música de amor


Apenas...
Me olhe nos olhos. Assim, fixados nos meus,
teus olhos irão compor a letra
Me abrace. Assim, encostado ao meu,
teu coração trará o ritmo
Respire. Assim, afinada à minha,
tua respiração me trará a melodia
Dessa música envolvente que se chama amor.


Beatriz, 10 de junho de 2007

Sonhos Pueris


Tinha sonhos pueris
Alma ingênua, pisou em ninho de cobras
E na sua imaturidade, mal percebeu
a falsidade venenosa camuflada
Feriu-se.
Derramou-se o pranto
Em lágrimas de sangue
Não compreendeu os seus erros
Perguntou-se sobre o sentido da vida
E como resposta: insignificância sofrida
Ausências, vazios...
Novamente feriu-se.
Banhou-se em pranto
Despida em lágrimas de virgem patética.

Beatriz, 28 de maio

domingo, 24 de janeiro de 2010

Últimas palavras


Quais foram nossas últimas palavras?
Não faz sentido que ofereça palavras
E que me queiras muda
Palavras, ainda que sem sentido, são esperança, liberdade e dão asas para voar.
E nesses dias estranhos, se põem a perguntar:
Qual é a razão de ser das coisas?
Há vazio por todos os lados, nas horas, nos dias, nos meses...
E o que se deseja, afinal?
Para além do cinza e da névoa desejo focalizar...
É preciso seguir, ainda que o mundo perfeito resolva me barrar.

Beatriz, 15 de maio de 2007

Loba Sofia


Sua sombra segue meus passos
pelas ruas estreitas, vielas, becos sem saída.
Ouço seus passos velozes, sua respiração.
Coração disparado, corro e perco a direção.
Vacilo, tropeço e caio no chão.
Rastejo e escondo-me no escuro de um corredor.
Vejo teus olhos luzentes e prendo a respiração.
Tu não me vês, farejas-me
Como um cão cego sem dono...
Mas eu não sou sua,
a sua Sofia.

Beatriz, 03 de maio de 2007

Ausência


Estive aqui durante sua ausência
Trazia uma flor e um coração
que não cabia em mim
Falei sozinha, gaguejei sentimentos
E tudo o que sentia em mim
Esperei sua chegada
O tempo passou e você não retornou
Busquei inspiração em cores contra o cinza
que começava a formar em mim
Onde estavam os olhos azuis, amarelos, verdes, cor laranja e lilás?
Perdi minha identidade
E também o brilho do olhar
Alvos estão meus cabelos
e enrugada a minha pele
Estive aqui durante sua ausência e envelheci.

Beatriz, 1.º de maio de 2007

Lágrimas de uma mãe


Meu filho, meu filhinho...
nosso filho amado
Como pôde, pai, esquecê-lo
no carro abandonado?
Fruto de nosso amor
nove meses esperado
Por imprudência,
nosso filho está morto
Com ele nossa vida enterrada

Beatriz, 13 de abril de 2007.

Sobre bebê de um ano e quatro meses que morreu na quinta-feira (12) em Guarulhos (São Paulo) após ser esquecido pelo pai dentro de um carro

Coragem


Cavar um buraco
Esconder-se do mundo
Ter medo, ter medo, ter medo
Coragem
Dar cara a tapa
Pensar o que pensa
Sentir o que sente
Expor a beleza
Olhar para a luz
Sair do abismo
Escalar a montanha
Murmurar: medo
Mas gritar: coragem!

Beatriz, 30 de março de 2007

Da janela


Olha no céu, estrelas
por momento se deixa esquecer
árduo, longo dia
É noite: vento arrepia...
Você que olha as estrelas
e que murmura fantasia
Sinta música a acalentar,
enquanto cidade silencia
Noite e luzes que fascinam
Fazem voar meu pensamento
Estrelas são felizes
ou me sinto triste no momento?
Agora a cidade vai dormir
e luz, se apagar
Vou fechar minha janela
outros sonhos, vou sonhar.

Beatriz, 29 de março de 2007

Libélula


Seguro de leve teu defunto corpo
Delicado e frágil em minha mão
Queria restituir-te a vida...

Suas asas em movimento
desenhariam no azul do céu
eterna dança
E num som agitado de libélula,
pousarias sobre folha e flores silvestres
Farias amor pairada
em água repousante
Reiniciando o ciclo da vida

Beatriz, 19 de março de 2007

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cenas


Passado vem à tona
Embaralhando cenas da infância
E misturando-as com as de há pouco
Confusamente, reporto-me a outras solidões, a outras rejeições
Seria um filme na tela do cinema vida?
Ou apenas uma despedida?
Como um drama sem fim,
Tinha planos e os perdi?

Beatriz, 28 de fevereiro de 2007

É preciso seguir

Se quiser, fique mais um pouco
No entanto, não se force a nada
Que nada mais posso te oferecer
Perdemos um ao outro
Não foi culpa nossa
Só que é preciso seguir
Sei que não foi fácil, sei que não é fácil
Restam lembranças e retratos guardados
Sei que não foi fácil, não é fácil esquecer
Porque restará, ainda, amor em mim
Você se foi e eu me vou
Nosso amor fica aqui.

Beatriz 25 de fevereiro de 2007.

Hipocondria

Desconfio que sofro de uma doença
misteriosa e não diagnosticada
Mas por sorte, acredito curável
Dia e meio, TPM, sim
e meio dia, TPM, não
Preciso de sol que ilumine pensamentos
que aqueça meu corpo Sol preciso, mas chove
Preciso de vitamina C
e do calor de você
Vem aumentar minha imunidade
Com xarope de carinho, injeção de ânimo, comprimidos de compreensão, vacina contra a solidão, antídotos contra a depressão e ampolas de paixão.

Beatriz, 22 de fevereiro de 2007

Boneca estrela


É boneca de porcelana
geniosa, impaciente e delicada
Não é falsa, porém engana,
que não precisa e precisa ser amada.
Você a conhece? Nunca está igual.
Não a conhece: não existe manual.
...
O que não diz está nas entrelinhas
E o que diz, nas estrelinhas.
...
Deseja atenção, antes de mais nada
Porque em banho-maria, cuidado, explode!

Beatriz, 18 de fevereiro de 2007

Promessas

Não precisa vir
Se é para eu esperar...
Cansada de promessas
Desta vez vou caminhar por
minhas próprias pernas
Desta vez não vou esperar...

Beatriz, 11 de fevereiro de 2007

O que aconteceu?

Estou cansado, vamos embora?
Portas se fecharam
Chaves se partiram
Pontes desabaram
Castelos demoliram
Vamos embora, para onde?
Por caminhos interditados
Refúgio não há
Abrigo não há
Como lágrima, chuva fina sobre o rosto
Como choro, sopra fria ventania... O meu corpo congela, vam'bora.

Beatriz, 08 de fevereiro de 2007

Vazio


Vazio em mim ansio preencher
Procuro e não encontro maneiras de me entreter
O vazio que há em mim,
haverá em outros cantos?
Procuras, desencontros e desencantos...
Difícil consenso: o que almejamos.
Eles necessitam poder
Vocês, dinheiro
Nós queremos muitas coisas
Ela, uma pessoa
Você... (não) sabe o que quer
Eu? Apenas um abraço.
Bem... Pode ser que o vazio em mim permaneça
Mas, pelo menos, a extensão dos meus braços estará preenchida.

Beatriz, 02 de fevereiro de 2007

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desejo Velado


Parreira ninfa de fruto adocicado
Colhido ao ventre e em seio esmagado
Prazer de beijo em saliva fermentado
Deleite refinado em álcool destilado
Em barril de carvalho, amor incubado
Em escura garrafa, desejo velado
Envelhecido amor: perfume embriagado
Coisa de química: vinho branco, tinto, rosado
Coisa de pele: paladar seco, suave, adocicado

Beatriz, 30 de janeiro de 2007

Serenidade


Olhar que paira sobre águas mansas
Refletido o brilho das estrelas
Serena e eterna
Corpo em ombro inclinado
Em suave calor de seu amado
Serena eternidade
Às vezes, fresca brisa sopra mansinho
Espalha flores em pétalas
Serenidade... Ah!

Beatriz, 24 de janeiro de 2007

Perdão


Palavra pequena de valor inestimável
Liberta o sujeito ou o objeto da ação?
Na busca por lembranças de experiências passadas
Vem à tona histórias inacabadas
Mágoas inesperadas
Rancores e dores encravadas
Como foram tão bem enterradas?
Lá estão: as coisas, as experiências,
... as pessoas...
Que nos machucando, tornaram-se indesejadas
E que lutamos para torná-las amadas.

Beatriz, 19 de janeiro de 2007

Mentiras


Ele finge que a ama;
Ela, que lhe faz amor
Ele jura que é fiel e a engana;
Ela, infiel e acredita na dor
Ele pensa que é feliz;
Ela, sabe ser infeliz
Eles são reais
ou só...
mentiras?

Beatriz, 16 de janeiro de 2007

Dependência


Desejo insaciável, Sede
que não se mata, Fome
que não se alimenta, Carência
que não se preenche, Guerra
que não se combate, Barco
que não veleja, Sonho
que não anuncia, Pensamento
que não é livre, Canção
que não se entoa, morte
que viver não pode ser depender...

Beatriz, 14 de janeiro de 2007

Saudade


Como caminhar em círculo
Como uma mãe que espera
Como um amor que não volta
Mora em meu pensamento
Permanece fora de convívio
Vazio que não se preenche
Música, papel e caneta,
Céu azul, água e sal e areia,
Fogo, pôr-do-sol e sereia
Vícios que mantenho
Delírios que alimento
O meu, teu vazio que não se preenche
Delírios que mantenho
Vícios que alimento
Pôr-do-sol, fogo e areia,
Água, céu azul e sereia,
Papel, música e caneta
Vazio que não se preenche
Permanece fora de convívio
Mora em meu pensamento
Como um amor que não volta
Como uma mãe que espera
Como caminhar em círculo.

Beatriz, 03 de janeiro de 2007

Máscara


Véu que o protege do olhar do outro
Máscara te esconde do mundo
E enclausura seus sentimentos.
Olha-te no espelho e vê!
O que vês?
Parece-te mais bonito?
Mais afortunado e feliz?
Parece-te perfeito?
Máscara te esconde do mundo e mundo de ti e teu mundo de nós,
Enclausura pensamentos e sentimentos
Parece-te Maior? Melhor? Indestrutível? Inabalável?
Veja o espelho! Olha-te nos olhos!
Aceita-te como és!

Beatriz, 31 de dezembro de 2006

domingo, 17 de janeiro de 2010

Medo


O que os teus olhos viram
Cabeça não quer lembrar
Corpo não quer sentir
Ouvido não quer ouvir
Boca não quer pronunciar
Pranto que inicia, coração acelerado
Lágrimas se derramam, como o sangue derramado.
Que teus olhos viram
Pensamento quer apagar
Música quer sentir
Rumores da guerra silenciar.
Agora é medo, esqueça! Tente ir dormir
Vou te fazer ninar
Olhe nos meus olhos e permita-se sorrir
Amanhã será outro dia,
iremos buscar um lugar para brincar.

Beatriz, 28 de dezembro de 2006

Autocrítica


Escrever não sei
Quem muito pensa
Quem muito observa
Sempre tem muito a dizer.
No entanto, como dizer?
Falta técnica e estilo
Faltam inspirações e palavras
Escrever também é (se) expor
Frases ridículas, criadas por mim
Mas se eu pudesse ser um poeta...
Ah! Um poeta!
Mamãe, quero ser um poeta!
Viverei não sei como, nem de quê
Viveria de amor?
Viveria sem pão!
Apenas na esperança de alimentar um coração.

Beatriz, 21 de dezembro de 2006

Secando as asas


Boiava num mar em turbilhão
Agitava-me desesperadamente pedindo socorro
Violentamente, a água em mim batia
Cada onda era como um tapa que a vida me dava
Resisti, quando força não mais restava
E agora, eis-me aqui
Sobrevivi
Estendida em praia deserta
Minha face prostrada na areia
Permaneço mais um tempo
Como quem seca suas asas, porque destina voar.

Beatriz, 21 de dezembro de 2006

Alguém para ouvir


No teu silêncio, espero
As respostas para minhas perguntas
No teu silêncio, escuto
O pulsar de seu coração.
Nas tuas palavras, soluçadas suas dores,
suas perdas, seus sofrimentos,
suas mágoas, seus arrependimentos,
suas saudades, seu cansaço perante a vida
Escutar teu pedido de ajuda exige que eu silencie
Para ouvir o seu pranto, sua lamentação
Exige que eu me anule
Que eu ignore meus conceitos
Para ouvir o que você quer me dizer
Eu preciso não te interromper, investigar,
Não te julgar, criticar, comparar a mim ou aos outros
Para te ouvir é preciso te respeitar e aceitar sua opinião
E me despir dos meus pensamentos e me pôr em seu lugar
É preciso confidenciar os seus segredos e não os revelar...
Apreciarei o que tens a me dizer, o que quiseres dividir
Porque, no teu silêncio ou nas palavras soluçadas,
guardarei meus próprios sentimentos

Beatriz, 19 de dezembro de 2006

Estendendo a mão


Para pedir, para ajudar
Para bater, para acariciar
Para ocultar, para cumprimentar
Para construir ou destruir?
Para matar ou salvar?
Para acolher e abraçar
Para colher e plantar
Para segurar, apoiar, levantar
Para pagar, agradecer, oferecer e retribuir.

Beatriz, domingo - 17/dez/2006

Desapego


Despedir-se de quem se ama
Abandonar a casa em chama
Perder todos os documentos
Falecer um parente
Sofrer um acidente
Terminar os estudos
Separar-se do amado
Abortar o filho desejado
Magoar um amigo
Amputar uma perna
Ver os fios de cabelo branco
Perder a visão
Enganar o coração
Desfazer-se da carta de amor
Possuir doença terminal
Desaprender uma língua
Permitir ao filho crescer
Doar o melhor romance
Viajar sem destino
Lamentar um dia que se passou
Encontrar-se sozinho
Abandonar um grande amor
Fechar os olhos pela última vez...

Beatriz, 21 de nov de 2006

Paradoxos do tempo

De repente, o tempo vai passando, meu tempo vai se extinguindo...
Eu querendo aqui ficar contigo, e meu coração se consumindo, aos poucos.
De pouco em pouco, tempo veloz, tempo voraz, tempo que retarda, mas não volta atrás.
Eu aqui querendo ter seu coração comigo.
E já é tarde... Vão-se os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses.
E já é tarde... Que horas são?
Muitos, ociosos, muitos, correria.
Há quem queira fazer 48 horas das 24 horas do dia.
Há quem queira eternizar um segundo...
De repente, o tempo vai passando, o mundo vai girando...
Pode não parecer: é tarde para começarmos qualquer coisa dessa vida
ou talvez tenhamos todo o tempo daqui para a frente.
Agora já é tarde, quero que fiques aqui comigo.

Beatriz Souza, 13 de agosto de 2009
*Último poema publicado no blog "Caderno de Poemas"

sábado, 16 de janeiro de 2010

Que não se pronuncie palavra


Vamos conversar? Você olha para mim e eu olho para ti.
Vamos conversar em silêncio, apenas com olhares e respiração.
Vamos deixar que os nossos corações aflitos se encontrem e se tranquilizem
Vamos deixar que nossas mentes diminuam a velocidade da informação.
E que se dissipe o cansaço, e que não se pronuncie nenhuma palavra.
Vamos, por algum tempo, por alguns segundos apenas, conversar em silencio
com olhar, confiança e mansidão.
Eu olho para ti e você olha para mim.

Beatriz Souza, 25 de julho de 2009

Imperativos


Cubra-me de beijos, embale-me em seu abraço
ainda que pareça egoísmo meu.
Acolha-me mesmo nas noites sombrias e de vazios sentimentos
que eu preciso de ti.
Deixemos a angústia e a aflição, contemplemos as coisas simples:
estrela, vagalume e luar.
Carrega-me no colo, me chame pra dançar
e flutue suavemente pairando sobre o ar.


Beatriz Souza, 21 de julho de 2009

De roupa suja e alma lavada


Quero chegar ao fim do dia, de roupa suja e alma lavada
Quero acolher as crianças num simples abraço ou numa brincadeira de rua
Correr, cansar-me, sob forte sol e suor na cara
E, pensar, como são belas as crianças de joelhos empoeirados, cujos pés são terra e lama
E, pensar que um sorriso valeu a pena e pagou o preço de todo o sacrifício.

Beatriz Souza, 20 de julho de 2009

Ferrugem


Envelhecida pelos dissabores do mundo fui.
E agora, eis-me prostrada em busca de palavras.
Porque há tempos deixei-me esmaecer pela falta de cor, pela falta de brilho.
Qual tempo corrosivo! Qual pobreza de ânimo desgastou meu pensamento, minha palavra.
Fragiliza-me e reduz-me ao pó. Porque tomas de mim o ser poetisa?

Beatriz Souza, 14 de julho de 2009

Despedida


É como acordar de um sonho bom
e perceber que não estará aqui
e o quarto, grande e vazio,
expandir suas paredes, teto e chão

É como acordar na madrugada
por causa de um pesadelo
e, acordando, não sair dele...
procurar água para matar a sede

Passam-se as horas, os tic-tac do relógio

É como acordar novamente
Após árdua noite
Corpo cansado, olhos ardidos
Esquecidos os sonhos, esquecidos os pesadelos
Devastado pela ventania, pelo furacão.
Outro dia.

Beatriz 06 de agosto de 2008
* Último poema publicado no Blog "Estrela Matinal"